Introdução à Primeira Carta de João

Publicado em 09/10/2011

Por que começar a leitura da Bíblia a partir da Primeira Carta de João?

Para que o leitor realmente se convença da mais linda realidade de sua vida: de que é escolhido e salvo por uma iniciativa amorosa e gratuita da parte do Senhor. A primeira necessidade de um cristão é ter certeza da salvação. É saber que Deus o amou e que o escolheu gratuitamente, sem nenhum mérito seu. Foi uma escolha amorosa, por misericórdia. Dos 73 livros da Bíblia, apenas essa pequena carta foi escrita com o propósito de dar-nos a certeza da salvação: “Eu vos escrevo estas coisas, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna” (1Jo 5,13).

A forma

A Primeira Carta de João não tem forma de carta: faltam endereço e assinatura. É na verdade uma homilia, uma instrução ou exortação enviada por escrito.

Autor

As cartas de João não identificam o autor pelo nome, mas todos os manuscritos antigos trazem um cabeçalho que cita “João”. Considerando as enormes semelhanças de vocabulário, estilo, ideias e doutrina, a tradição católica sempre a considerou como sendo obra de João, o mesmo autor do quarto Evangelho.

Destinatários

A Carta não está destinada a uma comunidade específica. Certamente foi escrita para orientar o conjunto das igrejas que estavam ligadas ao Apóstolo João e animá-las na perseverança fiel à fé genuína à pessoa de Jesus Cristo. Tudo indica que as comunidades às quais a carta foi dirigida passavam por grave crise. A difusão de doutrinas incompatíveis com a revelação cristã ameaçava comprometer a pureza da fé. Os pregadores do falso ensinamento pertenciam à comunidade (2,19), procuravam extraviar os crentes que permaneceram fiéis (2,26; 3,7) e eram chamados de anticristos (2,18.22; 4,3), falsos profetas (4,1), mentirosos (2,22) e do mundo (4,5).

Finalidade

Pelo conteúdo da Carta podemos adivinhar o que ocorria nas comunidades:

  • Reforçar os leitores em sua fé e em sua prática, mostrando que eles têm, por Jesus Cristo, o verdadeiro conhecimento de Deus.

  • Dar segurança aos fiéis que estavam com dúvidas se eles teriam realmente comunhão com Cristo e com Deus.

  • Mostrar que Deus é luz, amor e que pertencem a Ele os que praticam a justiça.

  • Combater os que separavam o conhecimento de Deus e Jesus do amor ao próximo.

  • Desmascarar falsas doutrinas e distinguir os espíritos (= inspirações daqueles que tomam a palavra).

  • Combater os adversários, provavelmente gnósticos, os quais afirmavam ter um conhecimento direto de Deus e negavam tanto a vinda de Deus “em carne mortal” (4,2) como a identidade entre o Cristo celeste e o Jesus terreno (2,22). Para eles, o Jesus terreno foi um mero instrumento do qual se serviu o Cristo celeste para comunicar a sua mensagem, descendo a Ele por ocasião do seu Batismo e abandonando-o por ocasião da Paixão. Também negavam a encarnação, a morte do Filho de Deus e o seu valor redentor.

Divisão do conteúdo

Não é possível subdividir claramente o texto, que se desenvolve de forma espiral, voltando sempre aos mesmos temas com novas variações. Entretanto, para facilitar uma prévia visão de todo o conteúdo em partes, bem como orientar a leitura, apresentamos a seguinte divisão:

1º) Abertura: 1,1-4 (a Palavra da vida).

2º) Deus é luz: 1,5 – 2,28. Primeira explicação dos critérios para sabermos se temos comunhão com Deus: a participação na luz de Deus, livres do pecado, no amor e na fé.

3º) É de Deus quem pratica a justiça: 2,29 – 4,6. Segunda explicação dos critérios para sabermos se temos comunhão com Deus: aquele que crê em Cristo e pratica a justiça e o amor-caridade é filho de Deus.

4º) Deus é amor: Terceira explicação dos critérios para sabermos se temos comunhão com Deus: Deus é amor (4,8.16). Cremos neste amor, que é Cristo, e esta fé vence o “mundo” (sistema oposto a Cristo – 5,1-12).

5º) Conclusão: 5,13 (a intenção deste escrito). O texto de 5,14-21 é um apêndice, uma nota explicativa de alguns tópicos da carta.